sexta-feira, 6 de junho de 2008

Boa Vista é uma cidade sem teatro

Matéria da Folha de Boa Vista, públicada aqui


VANESSA BRANDÃO

Boa Vista é a única Capital brasileira que não possui um teatro ativo. O Carlos Gomes, que há muitos anos vinha funcionando precariamente, está fechado para reforma desde o mês de março. A Secretaria Estadual de Infra-Estrutura (Seinf) ainda está na fase de levantamento do que vai ser feito para que o local volte a funcionar com a estrutura adequada. Não há previsão para o início da obra, quem vai executar ou quanto vai custar.

A fachada do prédio já denúncia as condições precárias. Ripas de alumínio estão despencando por cima do letreiro com o nome do teatro, que faz parte do patrimônio histórico de Roraima.

Dentro do teatro a destruição é ainda mais visível. A madeira do palco está em péssimas condições, refletores estão quebrados e muitas cadeiras também. A pintura das paredes esta descascada por dentro e por fora do teatro. A fiação interna fica exposta e a sala de som transformou-se em depósito de entulhos. O lugar foi fechado após o Corpo de Bombeiros ter emitido um laudo apontando riscos de desabamento do teto, por causa de problemas com cupins.

A diretora do Departamento de Cultura, Laury Rosa, disse que a reforma sai ainda em 2008. Questionada sobre o que ela sente sendo diretora de um departamento de cultura em um Estado que não possui um teatro, ela responde que entende a necessidade de se buscar resolver o problema.

Ela contou que o Carlos Gomes passou 12 anos sem manutenção e que quando assumiu, em 2004, a necessidade de reparos já foi apontada. “Já temos um projeto de reforma, que inclusive já foi apresentado para as companhias de teatro. Vamos ter um teatro de verdade que atenda todas as necessidades para acolher um espetáculo”, disse.

O secretário estadual de Educação, Luciano Moreira, afirmou que a reforma no Teatro Carlos Gomes tem que ser geral, por causa do estado de deterioração. “Nós estamos usando o Palácio da Cultura como opção”, disse.

HISTÓRIA - O Teatro Carlos Gomes nasceu em uma pequena sala do então Grupo Escolar Lobo D´Almada, com apenas 19 lugares. A historiadora Meire Saraiva, chefe da Divisão de Patrimônio Histórico, conta que em 1958, sobre a direção de Jacobed Cavalcante, o teatro abriu espaço para a instalação da Rádio Roraima, que tinha como funcionário José Maria Barbosa.

Só em 1962, no governo de Clovis Nova e direção de Áureo Cruz, o teatro passou por uma grande reforma, quando passou a ter 250 lugares, palco ampliado, área administrativa e estúdios. Em 1967, o jornalista Laucides Oliveira implantou uma idéia inovadora, criando o Cine Rádio Roraima, que devido aos altos custos de produção não durou por muito tempo.

Depois disso, o Carlos Gomes foi fechado e só voltou a funcionar em 1988, abrigando algumas atividades culturais escolares até 1990, quando foi novamente fechado. A penúltima reforma superficial aconteceu no primeiro governo de Neudo Campos.

Dirigente de federação afirma que RR precisa de ‘teatro de verdade’

O vice-presidente da Federação de Teatro de Roraima, Márcio Sergino, disse que o Palácio da Cultura não é um local próprio para espetáculos teatrais e que é preciso sensibilizar o poder público para usar os espaços ociosos da cidade para a construção de um novo teatro. “É uma idéia antiga, lançada pelas companhias de teatro, transformar o antigo galpão da Cobal, um prédio abandonado, em uma grande casa de espetáculos. É preciso saber agir de forma inteligente e saber usar os espaços ociosos”, disse.

Márcio chegou a Boa Vista nos anos 90 e disse que dessa data até 1992, o Carlos Gomes já estava fechado. Logo em seguida, o espaço foi reaberto e lá foram desenvolvidas algumas atividades e fechou novamente. “A verdade é que nós nunca tivemos um teatro de verdade nessa cidade. O Carlos Gomes nunca passou por uma reforma de verdade, trocavam refletores, arrumavam bancos, o jardim e diziam que a reforma foi feita. Aquilo é uma sala de espetáculos tapeando todo mundo”, criticou.

O artista fez duras críticas ao governo por ainda não ter implantado no Estado uma Secretaria de Cultura. “A nossa Secretaria de Cultura aqui em Boa Vista se chama Sesc. É ele que mobiliza a cultura em Roraima e nos oferece um espaço onde as coisas acontecem”.

Ele disse que as seis companhias de teatro representadas pela Federação nunca dependeram do Teatro Carlos Gomes para desenvolver seus trabalhos e que o prédio deveria ser derrubado e no local construído um “teatro de verdade”.

“Hoje movimento teatral está na expectativa da inauguração de um grande teatro no Sesc, no Mecejana. Um local com todas as condições para receber os artistas locais. Nós estamos produzindo bastante, com verbas federais e também através da lei de incentivo à cultura do Estado. As coisas estão acontecendo”, afirmou.

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