terça-feira, 18 de novembro de 2008

ENCONTRO DE TEATRO DE RUA EM SÃO PAULO

Amir Hadad entre seus seguidores
Foto: Uma linda mulher que passava por ali...

Por Marcelo Perez

Cia. do Lavrado


Este final de semana (14, 15 e 16/11) em São Paulo foi muito rico em vários aspectos. Desde o início da semana passada estava acontecendo a 3ª Mostra de Teatro de Rua de São Paulo. Quanta experiência bacana eu pude presenciar. Os caras conseguiram reunir através da internet, do grupo de discussão, uns 100 artistas de teatro de rua. O circo também tava presente.
Como em toda Mostra ou Festival, sempre tem alguma atividade extra. E a reunião da Rede Brasileira de Teatro de Rua – RBTR aconteceu nos três últimos dias da Mostra. Os grupos que participavam da Mostra se juntaram a nós e ficou muita gente discutindo política cultural e teatro de rua.


Fiquei muito impressionado com o poder de articulação da Rede que faço parte hoje. A RBTR tem uma existência recente e conseguiu reunir em São Paulo articuladores de 18 estados da federação pra discutirem teatro de rua. Que fique claro, ninguém tava representando nenhum estado. Eles criaram uma dinâmica de funcionamento bem legal. A RBTR não tem hierarquia. É uma rede que funciona de baixo pra cima, de dentro pra fora, todo mundo diverge, mas conseguem priorizar o teatro de rua.


Na sexta teve a abertura, no qual todos os articuladores dos estados, isso mesmo, o termo usado é este. Qualquer pessoa de qualquer estado pode ser um articulador da rede, é só ir à reunião e entrar na rede virtual de discussão. Não existem representantes. Durante as apresentações pude perceber que a realidade dos outros estados não é muito diferente da realidade do estado de Roraima. A dimensão é que é outra. Quanta vivência interessante. Até mesmo as dúvidas são muito parecidas.


No final da manhã do sábado recebemos uma ilustre visita. O Amir Hadad, do Grupo Tá Na Rua/RJ. O cara simplesmente foi ovacionado. Todo mundo de pé, aplaudindo o mestre do teatro de rua no Brasil. Ele entrou e sentou-se. Depois de um momento de silêncio ele começou a falar. Disse que quando tava no elevador pensava que se ele entrasse ali dentro e não fosse aplaudido seria uma merda. Afinal de contas, ele sabia que era uma figura importante. Dedicou a vida ao teatro de rua. Sua saúde não estava nada legal. Mas ele fez questão de estar ali. O coração dele tá com uma bandeira de trégua, a pressão alta e mesmo assim ele disse isso tudo. Os artistas se emocionaram com a sua fala e o Amir também, é claro. Foi um momento bem legal. Como um ritual.


O Amir falou muita coisa, com um discurso extremamente político. Muito forte mesmo. Fez um alerta de que o mundo tá ruindo. Que desde o 11 de Setembro que o mundo começou a despencar e com isso, o teatro de rua tem um papel contemporâneo nessa sociedade em processo de implosão devido ao sistema capitalista. O teatro de rua tá mais vivo do que nunca. Acredito que essa rede, que apesar de nova, já se mostra muito mais articulada do que as outras redes. Até mesmo do teatro. Um discurso libertador.


Na parte da tarde continuou o mesmo esquema de apresentações. No domingo, discutimos propostas para serem entregues na parte da tarde pro representante do MINC. A presença do cara do MINC foi fundamental pra que a articulação evoluísse. A urgência por mudança fez com que os artistas encontrassem rápidas decisões. E todas bem discutidas, articuladas dentro do grupão. O cara veio à reunião no intuito de discutir o Plano Nacional de Cultura, mas acabou que levou um monte de reivindicações pertinentes aos anseios da rede. As questões ditas de governo foram resolvidas com tranqüilidade e sabedoria. A Rede Brasileira de Teatro de Rua tá sabendo muito bem o que deseja. Então, não foi difícil.


Conseguimos terminar o dia com uma carta direcionada ao MINC, que foi feita ali, na hora. Uma comissão muito competente composta por artistas de vários estados se reuniram e integraram as idéias que foram discutidas e sugeridas na reunião. Foi show de bola.


Além da política cultural discutimos também o fazer. E foi muito importante. Uma troca valiosa de experiências com teatro de rua em diversos estados do Brasil. Um encontro organizado, com uma equipe responsável e pilhada pra que tudo corresse bem. Não faltou nada. Até festa teve. É, porque confraternização era a todo momento. A cada almoço, café da manhã, durante a cerveja do boteco, estávamos sempre discutindo teatro de rua, nos articulando bastante e nos conhecendo. Não estávamos ali para perdermos tempo.


É preciso urgência, a Rede Brasileira de Teatro de Rua veio pra ficar e fazer a diferença. Foi muito bom saber que existe muita gente fazendo teatro de rua no país. Que os próximos encontros sejam melhores ainda. E que tenha sempre esse espírito inclusivo que eu senti nesse encontro.


Viva o Teatro de Rua!

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